“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?” – frustrações de adolescentes e adultos

Trabalhar com adolescentes requer, geralmente, que a dada altura do processo se trabalhe a comunicação entre estes jovens e os seus cuidadores.

Numa primeira fase, é essencial trabalhar e ‘negociar’ com o/a adolescente a presença de outras pessoas (pais e cuidadores) no espaço terapêutico. É essencial que não se quebre a relação de confiança que foi sendo estabelecida. Então, falamos sobre a importância de ‘os deixarmos entrar’, asseguramos mais uma vez a confidencialidade e convidamos o/a adolescente a ser parte ativa nesta conversa. Delineamos em conjunto os pontos que serão importantes falar e, no decorrer de todo este processo, não são poucas as vezes que surge este pedido:

“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?”

– Podemos explicar-lhes que também tens problemas, sim.

Este pedido é, na maioria dos casos, resultado de um trabalho prévio sobre o reconhecimento das suas próprias emoções e, também, das dos outros. É resultado de um sentimento de incompreensão e de frustração que se torna mais evidente a cada “- Tu sabes lá o que são problemas!” dito pelos adultos.

De facto, é preciso desmistificar a ideia de que as inquietações dos adolescentes representam muito pouco quando comparadas com as dos adultos. São – isso sim – fases do ciclo de vida diferentes, marcadas por preocupações distintas. O que não significa que umas sejam mais desestruturantes que outras, mais avassaladoras que outras, mais preocupantes que outras.

O que está em causa é antes o impacto que cada problema, preocupação, acontecimento, tem sobre cada pessoa. E isto é tão variável quer se trate de um adolescente ou de um adulto.

É que na verdade, muito mais do que discutir a natureza e a legitimidade do problema, importa percebê-lo encontrar um caminho para o integrar.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica