“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?” – frustrações de adolescentes e adultos

Trabalhar com adolescentes requer, geralmente, que a dada altura do processo se trabalhe a comunicação entre estes jovens e os seus cuidadores.

Numa primeira fase, é essencial trabalhar e ‘negociar’ com o/a adolescente a presença de outras pessoas (pais e cuidadores) no espaço terapêutico. É essencial que não se quebre a relação de confiança que foi sendo estabelecida. Então, falamos sobre a importância de ‘os deixarmos entrar’, asseguramos mais uma vez a confidencialidade e convidamos o/a adolescente a ser parte ativa nesta conversa. Delineamos em conjunto os pontos que serão importantes falar e, no decorrer de todo este processo, não são poucas as vezes que surge este pedido:

“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?”

– Podemos explicar-lhes que também tens problemas, sim.

Este pedido é, na maioria dos casos, resultado de um trabalho prévio sobre o reconhecimento das suas próprias emoções e, também, das dos outros. É resultado de um sentimento de incompreensão e de frustração que se torna mais evidente a cada “- Tu sabes lá o que são problemas!” dito pelos adultos.

De facto, é preciso desmistificar a ideia de que as inquietações dos adolescentes representam muito pouco quando comparadas com as dos adultos. São – isso sim – fases do ciclo de vida diferentes, marcadas por preocupações distintas. O que não significa que umas sejam mais desestruturantes que outras, mais avassaladoras que outras, mais preocupantes que outras.

O que está em causa é antes o impacto que cada problema, preocupação, acontecimento, tem sobre cada pessoa. E isto é tão variável quer se trate de um adolescente ou de um adulto.

É que na verdade, muito mais do que discutir a natureza e a legitimidade do problema, importa percebê-lo encontrar um caminho para o integrar.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica

Quando comunicar parece impossível – comunicação na adolescência

Mudanças de escola, grupos de amigos diferentes, alterações corporais. O desenvolvimento a uma velocidade estonteante.Ideias novas a cada dia, contradições, descobertas saudáveis, descobertas perigosas. Decisões sobre o futuro.

A adolescência. O período onde a vulnerabilidade de quem ainda se lembra de ser criança vai oscilando e dando lugar às certezas de quem se torna adulto.

Uma transição poucas vezes ‘pacífica’, que se faz ouvir através de um estilo comunicacional bem característico. Que passa muitas vezes pelo silêncio, pelo afastamento e pela oposição, e que é muitas vezes entendido como um boicote à comunicação.

Pelo contrário. Como é sabido “impossível é não comunicar”.

É, de facto, uma forma de comunicar diferente. Que exige a todos os interlocutores uma atenção redobrada: a de tentar interpretar os sinais, que nem sempre são óbvios nem têm interpretação única.

Talvez esta dificuldade de comunicação seja um dos entraves à identificação de situações de risco na adolescência. É natural que haja informação que se perde e sinais que passam despercebidos. Não só aos olhos dos adultos, mas também aos olhos dos próprios adolescentes que muitas vezes se sentem perdidos naquilo que poderão ser as melhores opções a tomar.

Assim sendo, precisamos de não esquecer que ouvir é a condição-base de qualquer processo de comunicação.

É preciso que os adolescentes se oiçam e percebam em si a necessidade de pedir ajuda. É preciso que encontrem perto de si adultos disponíveis para os ouvir e acompanhar.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica