Mude. Mas comece devagar.

Dizem que o início de um Novo Ano é propício à mudança.

Surge uma vontade de mudar e de redefinir objectivos, aproveitando o recomeçar do calendário para um novo recomeço também.

É importante não ficar paralisado no medo e na ansiedade que a perspectiva de mudança provoca.

É igualmente importante não perspectivar uma mudança tão drástica e tão repentina que não chega a poder concretizar-se.

Para que a mudança seja efetiva, é preciso que seja feita de forma gradual e consciente. Analisando diferentes perspectivas, tomando contacto com o que é realmente importante mudar, definindo e redefinindo objectivos ponderados. E é neste caminho que o acompanhamento psicológico pode ser útil, porque nem sempre é fácil tomar contacto e por em perspectiva.

“Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a
velocidade.
Sente-se noutra cadeira, noutro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
… ”   Clarice Lispector

 

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica

“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?” – frustrações de adolescentes e adultos

Trabalhar com adolescentes requer, geralmente, que a dada altura do processo se trabalhe a comunicação entre estes jovens e os seus cuidadores.

Numa primeira fase, é essencial trabalhar e ‘negociar’ com o/a adolescente a presença de outras pessoas (pais e cuidadores) no espaço terapêutico. É essencial que não se quebre a relação de confiança que foi sendo estabelecida. Então, falamos sobre a importância de ‘os deixarmos entrar’, asseguramos mais uma vez a confidencialidade e convidamos o/a adolescente a ser parte ativa nesta conversa. Delineamos em conjunto os pontos que serão importantes falar e, no decorrer de todo este processo, não são poucas as vezes que surge este pedido:

“Pode explicar-lhes que eu também tenho problemas?”

– Podemos explicar-lhes que também tens problemas, sim.

Este pedido é, na maioria dos casos, resultado de um trabalho prévio sobre o reconhecimento das suas próprias emoções e, também, das dos outros. É resultado de um sentimento de incompreensão e de frustração que se torna mais evidente a cada “- Tu sabes lá o que são problemas!” dito pelos adultos.

De facto, é preciso desmistificar a ideia de que as inquietações dos adolescentes representam muito pouco quando comparadas com as dos adultos. São – isso sim – fases do ciclo de vida diferentes, marcadas por preocupações distintas. O que não significa que umas sejam mais desestruturantes que outras, mais avassaladoras que outras, mais preocupantes que outras.

O que está em causa é antes o impacto que cada problema, preocupação, acontecimento, tem sobre cada pessoa. E isto é tão variável quer se trate de um adolescente ou de um adulto.

É que na verdade, muito mais do que discutir a natureza e a legitimidade do problema, importa percebê-lo encontrar um caminho para o integrar.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica

Quando comunicar parece impossível – comunicação na adolescência

Mudanças de escola, grupos de amigos diferentes, alterações corporais. O desenvolvimento a uma velocidade estonteante.Ideias novas a cada dia, contradições, descobertas saudáveis, descobertas perigosas. Decisões sobre o futuro.

A adolescência. O período onde a vulnerabilidade de quem ainda se lembra de ser criança vai oscilando e dando lugar às certezas de quem se torna adulto.

Uma transição poucas vezes ‘pacífica’, que se faz ouvir através de um estilo comunicacional bem característico. Que passa muitas vezes pelo silêncio, pelo afastamento e pela oposição, e que é muitas vezes entendido como um boicote à comunicação.

Pelo contrário. Como é sabido “impossível é não comunicar”.

É, de facto, uma forma de comunicar diferente. Que exige a todos os interlocutores uma atenção redobrada: a de tentar interpretar os sinais, que nem sempre são óbvios nem têm interpretação única.

Talvez esta dificuldade de comunicação seja um dos entraves à identificação de situações de risco na adolescência. É natural que haja informação que se perde e sinais que passam despercebidos. Não só aos olhos dos adultos, mas também aos olhos dos próprios adolescentes que muitas vezes se sentem perdidos naquilo que poderão ser as melhores opções a tomar.

Assim sendo, precisamos de não esquecer que ouvir é a condição-base de qualquer processo de comunicação.

É preciso que os adolescentes se oiçam e percebam em si a necessidade de pedir ajuda. É preciso que encontrem perto de si adultos disponíveis para os ouvir e acompanhar.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica

Umas distrações mascaradas…

Não poucas vezes, chegam pais à consulta relatando as constantes faltas de concentração das suas crianças.

Tarefas que ficam por fazer, distrações habituais durante as aulas, a mochila que fica por arrumar, os livros que ficam esquecidos na sala de aula, o recado da professora que não é transmitido…

Estes pais precisam de saber o que fazer. Pedem estratégias para que os pequenos se tornem mais atentos e anseiam por rotinas menos sobressaltadas por esse “esquecimento”. Preocupados, falam daquilo que já foram lendo sobre o tão conhecido “Défice de Atenção” – e estão muito bem informados, na maioria dos casos.

Então, passemos à explicação dos princípios e façamos uma lista de estratégias a serem implementadas. Comecemos o treino de atenção o mais rápido possível.

Será?

É que entretanto, falta perceber o contexto e o significado. Falta perceber em que situações essas distrações surgem, a que assuntos dizem respeito e com que regularidade ocorrem. E, mais que isso, é preciso ir percebendo qual é o significado dessas distrações para cada criança e para cada família.

E é precisamente esse significado – que nem sempre é tão fácil de encontrar – que pode fazer a diferença na resolução de todas estas distrações.

De que servirá dar ao cérebro ferramentas que ele já tem? Ou pedir-lhe que execute tarefas que não consegue completar?

Podemos, sim, estar perante uma criança com Défice de Atenção e prosseguir para um intervenção multidisciplinar, dando ao cérebro da criança as ferramentas necessárias para que se torne mais atenta.

Ou podemos antes estar perante umas “distrações mascaradas” e, neste caso, não há comprometimento ao nível das áreas cerebrais responsáveis pela manutenção da atenção e do foco. Há antes uma interferência de questões emocionais que lhes “ocupa os pensamentos” e os distrai de tudo, ou um evitamento de tudo o que não gostam e que o cérebro faz por “esquecer” – e então tratamos isso, para que depois a atenção possa surgir.

Precisamos mesmo de descobrir essas “distrações mascaradas”.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica

E se pensar positivamente?

Sabia que cada pensamento envia sinais elétricos a todo o cérebro?

Ensinar-se a si próprio a controlar e a direcionar ideias positivamente é uma das maneiras mais eficazes de se sentir melhor.

Sempre que nos surge uma ideia de zanga, de tristeza ou de desalento, no cérebro inicia-se um processo de libertação química que nos provoca desconforto a nível corporal. Exemplo disso são os “nós na garganta”, a tensão muscular, a alteração do batimento cardíaco ou a transpiração repentina.

Da mesma forma, os pensamentos felizes, de esperança, de bondade, provocam esse mesmo processo de libertação química no cérebro. Mas, desta vez, uma libertação química que nos provoca uma sensação de bem-estar. A respiração torna-se mais serena, os músculos tendem a relaxar, o batimento cardíaco encontra-se mais estável.

Deve, então passar a focar-se exclusivamente nos pensamentos positivos?

Talvez, do ponto de vista meramente neuro-químico, este fosse o caminho a seguir.

Mas, entretanto, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio. É que nem o universo da neurociência é assim tão linear, nem os desafios que encontra no seu quotidiano se coadunam com uma visão sempre tão positiva de tudo.

O que se pretende é antes que ganhe consciência de que pensar positivamente o(a) ajuda. Que ter pensamentos negativos é condição natural do ser humano, mas que estes devem estar ligados a situações específicas e “merecedoras” de tal.

Faz parte do percurso ter estes pensamentos negativos e é preciso “deixá-los entrar”. Mas, é também preciso aprender a “ajuda-los a ir embora” assim que se sinta capaz de o fazer.

A sua saúde também pode depender disso.

Inês Carvalho – Psicóloga Clínica